Frugalidade literária

Num mundo que muitas vezes valoriza mais a embalagem do que o conteúdo, é importante lembrar que os verdadeiros tesouros podem estar escondidos em pequenos livros de bolso, amarelecidos pelo tempo e com capas modestas, outros até sem capas.

O meu “santo Gral”, que tanto procuro nas lojas solidárias, é um exemplar de “As mulheres do meu país” de Maria Lamas

Imagine-se segurando um livro desses em suas mãos. Pode ser pequeno, pode ter uma capa desgastada, mas dentro dele reside um universo inteiro de histórias, ideias e conhecimento.

Dou como exemplo este “O Jantar é às Oito” por Dick Haskins (disclaimer: não conheço a pessoa que está a partilhar este livro, que foi apenas inspiração para este post), que na verdade é o pseudônimo de António Andrade Albuquerque. Este livro pode não ter o glamour das prateleiras de uma livraria, mas para quem o lê, é uma jóia literária.

A questão aqui é: que não importa o tamanho do livro, o seu estado físico ou o seu valor comercial. O que realmente importa é o valor que ele traz à sua vida. Esses pequenos livros de bolso podem conter mistérios desafiantes, sabedoria ou aventuras emocionantes.

Lembro-me da minha própria infância, quando a minha família tinha recursos limitados para comprar livros capazes de saciar a minha voracidade. Recorriamos ao alfarrabista de rua (junto ao Coliseu do Porto, com revistas penduradas em cordas), onde podíamos trocar livros por uma pequena quantia em dinheiro. Essa frugalidade, desde a infância, ensinou-me a valorizar cada livro que eu tinha a oportunidade de ler, não importava de onde viesse ou como se apresentasse.

Não se deixem enganar pela capa. Olhem além das aparências e mergulhem nas páginas de livros modestos. Eles podem conter os maiores tesouros literários que você jamais imaginou.

Eu tenho uma vasta biblioteca, com mais de 500 livros (na última vez que me atrevi a contar), mas poucos custaram mais que um euro. Não posso dizer que formem estantes bonitas, mas definitivamente ricas de valor.

A frugalidade na leitura não é uma limitação, mas sim uma oportunidade para descobrir a riqueza que está escondida nos sítios menos óbvios, pois a verdadeira grandeza muitas vezes se esconde na simplicidade (uma afirmação que não é exclusiva dos livros).

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